Com a criação deste blog, pretende-se abrir um espaço de discussão sobre Padim da Graça em toda a sua dimensão. BOM SENSO é palavra de ordem
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Sabemos de onde vimos.
Decidi recuperar este texto escrito à pouco mais de 6 meses. Com uma adenda, os Marretinhas retomaram actividade. Li há uns dias atrás que a Graça ficou conhecida, em períodos distintos, pela lixeira, pelo parque industrial, pelo Águias e pela festa da Sra da Graça. A ordem descrita não é relevante do ponto de vista da respectiva importância. Sobre a lixeira nada de bom há a referir. As consequências de sermos o depósito de lixo de Braga ainda hoje é evidente, e já lá vão 18 anos desde que em 1995 o levantamento popular da Graça e da Pousa pôs termo à coisa. Cortes de estrada, barricadas, a população na rua numa demonstração de força extraordinária e vários dias sem o lixo ser depositado na lixeira. O corpo de intervenção ao fim de uns dias e noites de luta fez um cordão desde a curva do chez tino até à entrada actual do bairro, sensivelmente, para os camiões do lixo que estavam carregados à dias passarem. Um momento alto da luta do povo, o maior a que assisti por sinal. Além da visibilidade, negativa claro está, a lixeira contaminou as águas, a lixeira empestou o ar, a lixeira tinha incêndios todos os anos etc etc etc... Durante anos os executivos da junta foram coniventes com a presença da lixeira na Graça. O parque industrial, o 1° de Braga, criou emprego desde Barcelos a Braga. As hortas domésticas e até pequenos campos agrícolas foram abandonados, apesar de tudo os salários eram mais certos que os rendimentos do campo. Hoje é uma sombra do que foi, as fábricas abandonadas e as ruas perderam o reboliço que animava o comércio local. A propósito do comércio local, tudo o que gravitava em torno do parque industrial morreu com excepção à sede do Águias e mesmo assim a muito custo. O parque industrial teve também consequências que convém lembrar, designadamente a poluição do rio que para os que se lembram foi o local de encontro e convívio, sobretudo no verão. As descargas das fábricas que ficavam mais baratas do que as multas sucediam-se e com isso provocavam o afastamento das pessoas e a destruição da fauna. Uma vez mais os sucessivos executivos da junta assobiavam para o ar. O Águias mantém o seu funcionamento, embora sem o vigor de outros tempos, muito à custa de homens e mulheres - mais homens do que mulheres por questões culturais - que a muito custo e de forma desprendida vão dando o seu contributo para a continuidade do projecto. É bom lembrar que este clube é fruto da Revolução de Abril, da libertação do fascismo e do consequente alargamento do direito ao desporto aos trabalhadores e ao povo. O ano da sua fundação não engana, 1976. Diria que historicamente o Águias é o maior clube de Braga, naturalmente que a seguir ao SC Braga e - rivalidades à parte - ao Merelinense, daí a visibilidade que deu à freguesia, nomeadamente nos anos em que frequentava os campeonatos nacionais e com as duas vitórias na Taça AF Braga. A mim parece-me que os vários executivos da junta - uns mais que outros - não souberam (ou não quiseram) apoiar tal projecto. Por último, mas não menos importante, a Festa da Sra da Graça foi e continua a ser um elemento de visibilidade. Pela sua dimensão, pelo envolvimento e até pela singularidade de a procissão se realizar da parte da manhã. Com certeza já deve ter tido tempos mais folgados a nível financeiro mas o trabalho e empenho incutido pela população e mais concretamente por quem assume a responsabilidade de ano para ano permanece intacta. Posto isto, parece-me que a Graça tem vindo a perder vitalidade vivendo hoje numa apatia muito pouco característica da freguesia. Poderemos atribuir responsabilidades várias, mas também aqui me parece que os sucessivos executivos da junta - desde sempre do PS, ora declarado ora travestido de independentes sendo apoiados em alguns momentos pelo PSD - não foram capazes de levar por diante as justas aspirações do povo. Dir-me-ão que no caso do parque industrial os principais responsáveis serão os sucessivos Governos. E é correcto. Os sucessivos Governos do PS/PSD, com ou sem o CDS, em que os executivos da junta sempre foram os fiéis promotores locais de tal política. Num outro plano poderia abordar o que foi sendo feito, sobretudo a nível associativo, e que como nunca foi apoiado acabou por encerrar, com claros prejuízos para a freguesia. Da associação de atletismo, do grupo de teatro, dos marretinhas, das várias equipas da bola de domingo de manhã que durante anos se viram privados de jogar na Graça etc etc etc. Confesso que à parte o orgulho bacoco que nos é característico - e bem - de a nossa freguesia ser a melhor, a realidade mostra-nos que numa visão mais positiva estagnamos, em muitos aspectos retrocedemos bastante. A freguesia não tem vida, não estimula rigorosamente nada e vive de iniciativas pontuais que carecem de estruturação e planeamento sólido. Em minha opinião quem afirma que a Graça se tem desenvolvido no mínimo tem os horizontes curtos. O que até acaba por ser compreensivo, fomos e continuamos a ser trabalhados para nos contentarmos com pouco. Digo no mínimo porque no máximo está, naturalmente, quem beneficia com o estado actual. Entre o mínimo e o máximo está a cegueira, a estupidez e a bajulice mas acredito que o grosso da freguesia sabe e tem presente que paramos no tempo.
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Se paramos no tempo a culpa também é nossa. Por isso o melhor é começar a andar para a frente que o futuro é já amanhã
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